Reserva da Antologia Pessoal: agosto 2010

SETEMBRO

Amanhã
Amanhã é setembro
primavera chegando
o mar verdejando na porta da casa

teus olhos me mirando
o sorriso no rosto
vontade saudade dos beijos de agosto

JAMPAGOSTO

Já é quase primavera...

O sol forte
acorda as flores
que despertarão
um setembro colorido
de aromas afiados.

QUERO

Quero um samba sincopado
um amor profundo
proibido, bandido
como Wilton e Luciana

Quero pelas ruas vagar
te encontrando nas esquinas
no escuro das praças
ou no sol daquelas praias

Quero por ti ser fotografado
sufocando minha dor
nos carnavais muito beijado

E quero no fim
a calmaria da voz de Paulinho da Viola
acalentando nossos sonhos

TAMBÁBA

Numa tarde simbólica
meus olhos lambiam teu corpo
onde não era permitido abraçá-lo

É lei municipal!

VOCÊ...

Você em mim
surge como música incidental

Você em mim
entra quebrando as vidraças...

Intrépida me desafia
com tuas mãos ao amanhecer
antes que o sol em Cabo Branco me acorde

COMO VER UM QUADRO

Existe em mim
Uma grande vontade
                   verdade
Comer teu sorriso
Saborear o brilho dos teus olhos
Beber o som de tua voz
E adormecer em teus cheiros

VINTE POEMAS E UMA DISTÂNCIA VII

O elastério desejo
que estica-se sobre lembranças
lambe ávido
aquele passado
sentindo o sabor
dos teus olhos sorrindo
nas transmutações do corpo
         enquanto holofotes
         lampeiros metediços
         nos buscam

VINTE POEMAS E UMA DISTÂNCIA V

Delineava-se
                    um ácromo
                   acre outono
             frente ao desejo
                 não realizado

VINTE POEMAS E UMA DISTÂNCIA IV

Sudesteava-se minha agulha
                       quando meu coração
                       fisgado no centro...
o país nada entendia

VINTE POEMAS E UMA DISTÂNCIA II

As lagrimas gritam em meus olhos
quando a saudade me toca...

              E na janela que nos vejo
              você me olha sorrindo
              enquanto Irene ri...

ACRE CARÊNCIA

Conspícuo
notável
a transmutação
que me fez taciturno
veio pujante, lutar contra mim...
e agora
           queima fogo acre
           na minha boca
                                amarga
                                a tua ausência
                                                     falta de ti
espaço vazio entre meus braços
como chuva
                  que não encontra na terra
                  a semente
          cometa que vaga
          ermo afora.

STRAUSS

Meus tímpanos
não reclamaram
a percussão do piano.

Meu martelo
não quebrou o desejo de ouvir
a leveza dos passos
que invadiram
meus pensamentos

Meu corpo (só)
não afastou a visão do dançar
e no ar girando
talvez ainda estejamos!

UM HAICAI FRENTE AOS OLHOS

Não vi você lá
estavas aqui
quando procurava-te

PAZ

Quero cravar
                    minha epiderme em teu rosto
com a maior violência
                                do meu carinho
bombardear
                   teus lábios
com mil beijos
atirar
       teu corpo
       em meus braços
te fazendo chorar
                          de prazer...

TARDE AZUL

Tarde de domingo
ao som do azul infinito
que quebra o silêncio...

Tuas palavras
caminham em meus ouvidos
me fazem imaginar
choques rosas
de línguas que procuram
matizes brilhantes
no céu de tua boca.

QUANDO VOCÊ FOI AS COMPRAS

Você se foi
e eu
querendo fazer uma poesia
poesia chocolate
para quando você chegasse
saborear...
comer palavras
com seus olhos famintos
degustando pensamentos
romances nas entrelinhas
segredos entre as letras
açúcares entre eu e você...

DEPOIS DO FIM

De repente você viu que era mais um sonho e acordou,
Lavou o rosto, escovou os dentes e sorriu pro espelho...
Tomou café e foi pra vida...

Dobrou na esquina e lembrou que não era fácil assim.

HOJE

Hoje
Atirei poemas em tua janela
Todos pintados com a cor dos teus olhos
Lábios e seios

Eles falavam de sonhos contidos
Blandícias e sabores de nós

... DEPOIS ACORDEI

Sonheicomvocê
oceanodomeus
ereeuumriodes
aguandoemtimi
sturando-meaot
eusaborenquant
oosaldenóspree
nchianossaslíng
uaseasmãosaca
riciavamasareia
spelesdenós

PASSADOFUTUROAGORA

Um dia fiz um acróstico
Que na embriaguês contraditória da adolescência
Discutia com um compenetrado haicai...

      ...Enquanto eu frente ao olho
      Rodava o caleidoscópio
      Sem ver as imagens fractais da calma maturidade

SONRISA

… encanta oír hablar de sus ojos
de su sonrisa
de su respiración
de su piel
de su cuerpo

los gritos de los inundantes
del su deseo/ voluntad
a devorar yo

O FERRO DE ORFEU

Enquanto eu
passava o quente e mudo ferro
a roupa nada falava
das velhas
ou das novas sujeiras (do mundo)
e os homens lá fora
com suas falhas escatologias
filosofavam sobre a morte
                           juízo final
                           castigos ultra-terrenos
esqueciam-se da hermenêutica
esqueciam-se de viver amando...
construíam edifícios (armadilhas)
matavam famílias
roubavam camelôs
criavam cães ferozes
armavam-se "até os dentes"
matando a natureza
matando o gênero humano...
tomando uísque escocês
falando alto
globalização, dólar, investimentos!!!
julgavam-se píncaros da raça...

Ridículos tiranos!!!!!!!!!!!
meu ferro gritou
vermelho de raiva e orfismo
querendo engomá-los.

Eram imagens sonoras
ecoando no fundo do meu olho

CONGEMINANDO

Nosso encontro
quase choque
era um blues azul
quase jazz cor da pele
numa gaita
      sax
clarinete sex
esbelto tocar...
Corpos bailando
ao som do coração
num salgado suor de pele...
sob o clarão da lua
tendo estrelas como testemunhas.

ENCONTRO

O poema estende-se sobre as palavras
onde o sentir
navega pelos sentimentos
embriagando, embriagando...

Involuntários, os corpos buscam-se
lampeiros e mornos
decuplando-se
ante nossos olhos

VINTE POEMAS E UMA DISTÂNCIA XX

Eu vinha vindo na contramão
te encontrei sorrindo no meio do povo
trazendo um abraço da solidão
fui logo sorrindo por te ver de novo...

          ...e cumprimentando pessoas na multidão
          você de mim sumiu
          para me encontrar depois
          teus olhos, atiravam mel em minha boca
          enquanto os meus, te saboreava por inteira

VINTE POEMAS E UMA DISTÂNCIA III

Rola
do meu olho
ao meu cérebro
    belas imagens
    envolventes
        rebusca-se
        o tímpano
           abrem-se frestas
           do vazio desencontro

OCEANO POÉTICO

Vago barco embriagado
mar afora
mar afora
       barco embriagado
                 de arquitetura pós tudo
                 quase belo
                 quase perfeito
                 imprevisível
                 sem bússola
                 querendo nascer em Neruda
                                viver em Rosa
                                morrer em Augusto.

PELOS PALCOS

São sons
melodias
pano de fundo
cenário
retratando a vida
do velho palhaço

São sons
os gargalhos
roupa amarelada
estilhaços de dor
transformados em risos
no palco (vida).

ENTRE

Entre sente
Sinta as cores do sol
Veja o sabor das montanhas coloridas

Entre sente
Sinta meus poemas
Veja o cheiro de nós

Se atreva na minha janela
Viaje com suas mãos, rodopios em nosso mundo

EU QUERO

Eu quero enviar
Meus mil poemas inacabados
E você com seu sorriso vermelho carmim
Lê-los ofegante mordendo os lábios

Eu quero enviar
A opacidade do meu ser
E você com o brilho ofuscante do seu olhar
Ler-me com tuas cores brilhantes inefáveis

E por fim
Enviar meu corpo sedento
E você com seu carinho inundante
Preencher saciando meus desejos

OBSERVANDO LEMBRANÇAS

Meti o olho no retrovisor
E mergulhei num fractal caleidoscópio
Enquanto as lágrimas lavavam lembranças
Do momento em que eu pedia para te morder,
Morder até antes da dor

METAMORFOSES

Minha poesia metamorfoseou-se
Calçada para o teu caminhar

Bebeu no espelho
Lavou-se na cama
Enxugou-se na luva
E caiu como um beijo
Em nossas bocas

NOSSA MISTURA

Entre espátulas e tintas
Uma relação pastosa
Configurando-se

Nossas vontades tachistas
Em multicoloridas sensações extasiantes

DESEJO

Desejo timoneiro
meta
primeiro

Teus lábios


Desejo tácito
inexato
implícito

Teus olhos


Desejo beleza
carinho
leveza

Tua tez

LA BELLE DE JOUR

A bela da tarde
Corria nua
Pelas avenidas do meu ser

Entre a cozinha e a cama
Cruzava sinais
Deixando-me vermelho
Acariciava-se
Procurando o espelho

Deixava-me beijos na janela
Aumentando saudades dela

MEU VERSO

Meu verso hoje acordou só
Meu verso triste chorou só
Meu verso descobriu que você não o entendeu
                 Quis transformar-se
                 Em palavras puras
                 Em palavras fáceis
                 Que trazem na face
                 O olhar como o teu
                             Como o meu
                 Quis sair de mim
                 E entrar em você, completo
                 Quis certeza sem olhar no espelho
                 Quis entrar em tuas narinas
                         Falar dos beijos
                         Lembrar das caricias
                         Sentar na calçada
                         E com a brisa no rosto
                         Falar de mim para você

EU LÍRICO PROPENDIDO

O meu lirismo

Beira, retrovisor, o Surrealismo
Arma-se com a mais violenta paixão
Atira carinhos e flores nas calçadas
Quebra o espelho de Narciso e voa com Ícaro


O meu lirismo
Faz-se, novamente, Neo-Concreto
Cola o desejo nos carnais murais urbanos
Acaricia o dúctil e o plástico beijo de amor
E por extrusão derrama-se de Neruda à Pessoa

MINHA DOR

A minha dor me corta
                   Me corta o peito
                                  A cabeça
                   Me corta a voz
                   Me faltam lágrimas
                   Me seca a boca
                   Me ofusca os olhos

A minha dor
                   Dói
                   Me deixa sem cor
                   Me desbota as roupas
                   Me tira o tempero do almoço

A minha dor
                  Me fala do que não tenho
                  Me mostra meus desejos
                  Me traz o translúcido desejo do analgésico-cura
                  Me veste com trapos
                  Me expõe farrapo
                  Me deturpa-condena
                  Me impõe esquecer que “sou filho do carbono e do amoníaco”
                  Me lembra do “EU” de Augusto
                  Me apaga os Anjos
                  Me faz velar os Velosos que não escuto
                  Me corta Lumieri, Almadôvar, Kurosawa
                  Me arranca Fellini e apaga Masina
                  Me oferta um mundo sem arte
                  Me esconde o pão e circo, que os Romanos já ofereciam...
                  Me faz matar o leão e não comer a carne

A minha dor
                  Me coloca às margens da farmácia-vida
                  Me grita palavras que não escuto por não sabê-las
      E ainda Me leram que: “quem não luta pelos seus direitos, não é digno de tê-los"

A minha dor
      Só não Me subtrai a alegria da vida.
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