Reserva da Antologia Pessoal: setembro 2010

ÂNSIA

Fio de luz
fio de luz em arco
               em arco
no marinho quase negro
viaja como barco...
eu
marinheiro naufrago dos olhos meus
observo-a sem encontrar-te.

LABIRINTO

O dicionário em cima da mesa
não me mostra palavras
deixando teus olhos sem tradução...
enigmas que o cotonete
impediu-me de ouvir
e minha boca não consegue falar

135 EM 23

No dia em que o vento corria
Na rua em reta
No dia em que a rua era viva
No dia em que eu vim
Eu vida...
No gargalhar dos meus
Na oitava hora e meia do dia
Entre um riso banguela e um banho
Um sono em alegria

VISIONÁRIO MERGULHO

Quando eu era o visionário
Com minha luneta na mão
Não observava o teu signo
Revirava imagens por baixo das unhas
Sem querer ver ou ser
O escafandrista de agora
Que mergulha na flor da tua pele
Movido pelo ego
E ondas de desejo


POR SOLAR

O sol se vai
trazendo melancolia
nas suas cores
no lusco-fusco
do fim de tarde vermelho
                        rosa
                        azul
                        azul quase verde
                               quase negro
                        sobre um horizonte verde
                        verde e vivo
                                  quase morto
no melancólico solitário por solar.

GEOMETRIA DESCRITIVA

As retas
são seguras
      constantes
      monótonas.

As curvas
               encantadoras
          desafiantes
     envolventes.

EXCITAÇÃO

Apesar da vontade...

Você não comeu meus olhos.
Até tirei os óculos
para não machucar tua boca.

DEGUSTAÇÃO

O açúcar desmanchava-se na boca
enquanto olhava teus lábios molhados
sedentos por eles
ficaram meus olhos.

Foi um sabor quente
que queimava cortando o silêncio
que invadiu o céu da minha boca
me fazendo levitar.

“SOL”

Para o céu,
azul.

Marinho quase negro,
a noite.

Vermelho quase sangra,
no fim da tarde.

Quase não suporto ver
no meio do dia
queimando minha retina
no “centro” do olho.

PINTANDO-NOS

O vermelho
Se unia ao amarelo
Num doce laranja
Pano de fundo
Para o nosso amor

Nosso amor
amor
multicolor

ZIGUE - ZAGUE

Palavras e pensamentos como recortes
ornando os instantes

lembranças de toques e perfumes
imitando o real

zigue - zague de imagens a rodopiar
instigando novos momentos
onde o vazio não exista em nós

VOCÊ ME PERGUNTANDO O QUE SIGNIFICAVA...

As palavras não tinham palavras
enquanto você perguntava
e eu tentava encontrar respostas
... até que você mergulhou em nós
                       e dobramos o mapa,
                       dobramos as roupas
                       amassamos os lençóis
                       despenteamos os cabelos
                       banhamos os corpos...
e ofegantes
preenchemos silêncios!

BEIJO

                 Um beijo na borda da taça
            Um gole de amor
       Num sofá amarelo
Ou no meio da praça

No veludo da tua língua
       Serenas bolhas estouram
            Buscando o mar
                 Numa alegria cristalina
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